XIAN

Xi’An tem uma grande importância histórica por ter marcado o início da talvez maior rota de comércio que o mundo já viu, a rota da seda. Por séculos, milhares de comerciantes em caravanas saíam dali percorrendo todo o continente asiático até chegar a Europa. Abastecidos de seda, porcelanas, especiarias e outros produtos exóticos que agradavam as cortes européias, estes aventureiros tinham a grande função de conectar dois mundos, o ocidente e o oriente, através da troca de mercadorias. Por conta de todo este fardo histórico, Xi’An tem uma grande influência da parte central islâmica da Ásia que durante muito tempo controlou o fluxo comercial do trajeto.

Muçulmanos que percorriam a rota passaram a se estabelecer na cidade, criando um bairro próprio, construindo mesquitas e comendo kebabs. Talvez esta seja a grande peculiaridade de Xi’An e fator que a torna única. Apesar de estar no berço da civilização chinesa, a cidade mescla brilhantemente aspectos chineses e islâmicos. O Muslim Quarter é uma espécie de medina só que com ruas arborizadas, clima úmido, com vendedores de olhos puxados, escritos bilíngües em mandarin e árabe e uma grande e curiosa mesquita. Ela é de fato a maior mesquita da China. Muitos aliás não imaginam que quase 2% da população chinesa (e olha que isto não é pouco) seja muçulmana, número que se deve à grande minoria étnica centro-asiática dos Uihgures (mas isto é outra história). Uma mesquita sem aqueles minaretes tradicionais, sem aquela grande cúpula clássica e principalmente sem que a fachada oeste (e não a sul) esteja na direção de Meca. Em contrapartida, com um daqueles portões chineses que se vê em filmes de Kong Fu. Uma mistura única muito interessante. Se a informação de que aquele prédio é uma mesquita não fosse dada, muitos jamais imaginariam não fosse pelos escritos em árabe.

Muito antes da influência islâmica ter atingido Xi’An, a cidade já era um grande centro urbano do império chinês. A enorme muralha que circunda o centro expandido da cidade prova este fato e é muito boa de ser visitada de bicicleta. Prova viva de sua anterior importância é a sua grande atração de hoje. A mais ou menos uma hora da cidade, jaz a grande estrela de Xi’An, os seus guerreiros de terracota. Sim, aqueles que você com certeza viu na Oca do Ibirapuera por volta de 2002. A exposição no Brasil mostrou muito bem a delicadeza e a riqueza dos detalhes de cada guerreiro que os tornavam únicos e não mias uma cópia de uma produção em larga escala. Não conseguiu mostrar, e por motivos óbvios, a magnitude do exército construído. O complexo são três grandes poços onde nada mais nada menos que 8000 guerreiros, 130 carroças e 520 cavalos de cor amarronzada se encontram enfileirados.

O que passou a ser um dos maiores tesouros chineses foi descoberto por acaso nos anos 70, quando uma família local cavando um poço achou indícios do grande exército. A história por trás desta loucura é um mimo de uma grande imperador da dinastia Qin. Por volta do século II a.c., aos 13 anos de idade e acreditando que tudo que fosse enterrado consigo se levaria para a eternidade, Qin Shi Huang determinou que fosse construído um exército do tamanho do seu próprio com fidelidade de detalhes para que fosse enterrado em seu mausoléu e portanto protegê-lo para sempre.

O que muitos não sabem porém é que o exército é apenas uma fração do mimo do imperador. Além de proteção, o doido varrido ainda mandou que fosse construído uma réplica de terracota de absolutamente todos os seus pertences, incluindo animais, serventes, objetos, artefatos e etc. Aos poucos foi-se descobrindo que, ao redor dos guerreiros, haviam mais milhares de outros poços recheados de réplicas de mulheres, gansos, vacas, pratos, mobília e tudo o que se possa imaginar. O sítio arqueológico do mausoléu tem um período total de 6 quilômetros e levou 38 anos para ser construído.  No entanto, as escavações e visitas turísticas são restritas ao guerreiros de terracota.

Sendo expulsos de Xi’An embaixo de chuva, seguimos viagem à Gansu, região autônoma próxima à Xi’An onde, na parte do sul, existe uma grande influência da cultura tibetana. Próxima parada, Xiahé e langumsí, enclaves tibetanos  fora do Tibete!